segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Faces.


1. Só é possível ver lixo, um punhado de lixo. E um monte de vermes procurando algo que presta para se sustentarem. As poucas cores que ainda existem vão sumindo enquanto o marrom toma conta dessa paisagem mórbida que me cerca, onde o cheiro deixa de ser ruim e passa a ser insuportável. Os velhos cortes deixam o vermelho quando o pus aparece amarelando o resto da pureza; a dor pulsante não me permite esquecer da deprimente realidade em que me encontro.
A essência humana é vista em cada gesto e em cada palavra. Os sentimentos são liberados em cada passo, em cada respiração. Os poros berram em busca daquilo que sacia a sede. E quando, finalmente, as palavras viram rosnados e gemidos, entendo a raça que pertenço. 

2. Ah, grande teatro de sombras, onde estás? Tudo era tão lindo! Por que simplesmente não me contento? A luz do sol queima, a realidade me empurra de volta para fora do buraco, ela acaba com tudo, com tudo. Não deixa um sorriso, não deixa uma ilusão. Só a dor. A dor do sol queimando na pele. Só deixa essa maldita angústia de, de fato, enxergar.

3. Pediria ao sol que não esquentasse tanto, assim meu corpo não precisaria lutar tanto para permanecer frio, mas não peço! Não peço porque muitas vezes é só a luta que me mantém alheia à vontade da desistência. Poderia simplesmente esquecer. A dor diminuiria,  mas é justamente a dor que me faz lembrar de momentos felizes. E então, me falam sobre amor carnal! Como se um toque fosse mais importante do que uma palavra, como se a aproximação fosse mais pura do que a alma. A saudade move continentes, a palavra gera sentimentos e a distância gera amor. Por isso não peço para as águas do mar secarem ou para que as distâncias encolham, porque somente longe é que terei esse amor eterno por ti.

4. Passos largos e firmes para conseguir respeito. Sorrir com os olhos para que os outros temam. Sorrir com o canto da boca para chamar. Gargalhar para mostrar espontaneidade. Lábios duros para mostrar frieza. Postura para passar autoridade. Olhos calmos para conseguir confiança. E respirar, para nunca esquecer do controle.

5. Quem, raios, sou eu?