quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Diálogos internos.

Deixe-o ir. Vamos, deixe logo!
Ele não cabe mais em você e você sabe disso, então por que você insiste em mante-lo aí dentro?
Vamos, você precisa deixa-lo ir logo!
Isso só está machucando mais, só está fazendo doer mais, para com isso e deixe-o ir.
Olha, eu sei que ele se mantém por perto, mas você fica feliz com isso? Não! Não fica, você sabe que não fica. Então deixe-o ir logo. Para que ficar sofrendo por uma causa que você já julga perdida?
Quer dizer, você julga perdida, né? Já passamos dessa fase, você sabe!
Então pronto, é só deixa-lo ir! Sem mais. Porque desse jeito, você só sofre! E você sabe disso!
Então vai lá, seja forte! Como você é e sempre foi, eu sei que você consegue! Sempre conseguiu, vamos lá! Rápido igual tirar band-aid! Vamos! 1, 2, 3 e fim! Aí você vai poder ser feliz de novo, sabe? Daquele jeito que você sempre foi. Vamos, deixe-o ir, vai doer no começo, talvez até doa por um tempo, mas vai passar e você sabe que vai!

Deixo-o ir. Vamos, deixe logo! Ele não cabe mais em você e você sabe disso, então por que você insiste em mante-lo aí dentro?

sábado, 12 de outubro de 2013

Lucy in the Sky with Diamonds.


E nessa vida existem marcas. Marcas de tempos, marcas de lugares, marcas de pessoas, marcas de coisas. Coisas tangíveis e intangíveis. Coisas desse plano, coisas transcendentais. Coisas tocáveis que levamos e outras que deixamos. Coisas que passaram, mas que ficaram na memória.

E enquanto eu estava lá, sendo marcada por tantas coisas, Lucy estava comigo! Sempre comigo. Lucy e eu.
Muitos podem dizer que ela é, literalmente, um peso nas minhas costas. De fato é. Mas quando o peso é parte da gente, fica mas fácil de carregar.
Lucy sempre levou tudo aquilo que era material demais para eu levar na alma. Levou livros, roupas, compras de supermercado, presentes. Levou casacos, comida, computador.
Já foi mala de viagem, mochila de escola, acessório de vestuário e travesseiro. Já dormiu debaixo da minha cabeça para eu poder descansar, entre as pernas para não ser roubada e no armário para não ocupar espaço.
Mas o ponto, é que ela sempre esteve lá!
Lucy e eu, sempre comigo, em todas as minhas viagens.
Meio suja, meio rasgada, meu bonita, mas sempre lá: forte e segura; dando suporte logo ali nas minhas costas.
Lucy e eu pelo mundo! Eu andando e ela repetindo o seu eterno mantra "How to survive".
Lucy e eu, porque ela me mostrou que é o suficiente para levar tudo de material que eu preciso. Porque a Lucy, só a Lucy, a Lucy in the sky with diamonds, é que me ensinou a me desapegar de outras mil coisas para me apegar a ela: levar mil coisas sem Lucy ou poucas coisas na Lucy?
Lucy e eu, Lucy comigo, em todas as minhas viagens: as longas, as curtas, as próximas, as distantes, sozinha, com mais gente.
Lucy e eu. Sempre! Lucy que me marcou. Marcou muito! Porque Lucy e eu temos marcas do tempo, marcas dos lugares, marcas das pessoas, marcas das coisas. Marcas iguais, marcas dos mesmo momentos, das mesma vivências. Porque ela sempre estava lá, Lucy sempre comigo.
Porque Lucy e eu fomos marcadas pela vida, enquanto marcávamos uma a outra.

sábado, 31 de agosto de 2013

Embora.

Ir embora.
Pelo mero prazer de ir.
Ir embora. Porque não há razões para ficar. E que razão melhor que essa para ir?
Ir embora. Só ir. Como se nada existisse e como se algo pudesse existir.
Ir. Só ir. Deixar, partir.
Sem mais.
Ir embora. Porque ir é bom.
Ir, porque não há o que nos prenda, não há o que não nos deixe.
Então... pra que ficar? Algumas ilusões não são boas o bastante para nos enganar.
Então... vamos ir. Ir embora.
Porque pode não haver nada ao ficar, mas muito ao ir.
Ir embora. Porque o mundo está aí! E ele é nossa casa e...

Ah, como é bom estar em casa!

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Casa.


Eu queria ir para casa. Mas eu não sei onde ela está.
Não sei.
Eu queria saber onde está minha casa, para eu voltar. Eu queria muito.
Porque eu cansei de não estar em casa.
Tudo bem, eu passei minha vida sem estar em casa, mas eu não sabia o que é se sentir em casa.
O problema é que agora eu sei. E quero voltar. Voltar para casa.
Mas como se eu não sei onde ela está?
É que é preciso estar em casa para sermos a gente. Não podemos ser nós mesmos em qualquer lugar. Não! É preciso estar em casa, é preciso se sentir em casa.
Mas como se não sabemos onde ela está?

Eu preciso descobrir! Eu preciso estar em casa.
Preciso. Preciso muito.
Porque só assim vou poder ser eu mesma de novo.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Só amo.


Eu amo você.
Inexplicavelmente, incontrolavelmente, incessantemente.
Amo muito. Mais que muito. Mais que muitos.
Eu amo você muito. Como se o dia dependesse disso.
Eu amo você.
Frequentemente, freneticamente, constantemente.
Ai, como eu amo!
Amo o tempo todo, a cada pausa, a cada fala, a cada instante.
Eu amo você!
Incansavelmente, inacreditavelmente, inabalavelmente.
Eu amo como se mais nada precisasse do meu amor. Amo como poucas vezes amei. Amo como parte de mim. Amo muito, muito mesmo.
Como se eu nunca mais pudesse amar alguém.
Eu amo você.
Dolorosamente, calorosamente, intensamente.
E eu nem sei se você me ama! Talvez não me ame, talvez ame outra, talvez já tenha amado, talvez não ame mais, talvez nunca tenha amado alguém. Eu não sei!
Ah, mas eu eu amo você!
E como amo! Amo ao ponto de achar que nem todo o amor do mundo seja maior do que o meu.
Porque eu amo você.
Fisicamente, emocionalmente, incondicionalmente.
E no fim... eu só amo você.
Amo muito, muito mesmo. Mas só. Só amo.
Eu amo você.
Inexplicavelmente, incontrolavelmente, incessantemente.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Dores.


Era dia de manifestação. E ela estava indo embora. Não tinha mais o cartaz e perdeu a blusa de frio em algum lugar.
Ela estava indo embora. Com o celular, a identidade e dez reais no bolso. E marcas. Marcas roxas por todo o corpo.
Duas balas de borracha no braço e uma na perna. A blusa branca, por causa da paz, manchada de sangue, por causa da violência. Os olhos ardendo por causa do gás. E as lágrimas caiam sem querer. Não era dor, não era tristeza. Era raiva.
Até que viu seu reflexo no vidro de um carro. Tinha uma mancha roxa na bochecha, parecia ter levado um soco. O ombro estava roxo também. Os olhos ardiam. Decidiu ir a um posto médico.
Nossa, não doeu?
E ela dizia que não. Não doeu. Nada.
Ela andava na rua, indo para casa e perguntavam. Sempre perguntavam.
Não ta doendo?
E ela negava. Porque não estava. Não doía, em lugar nenhum.
Um rapaz apontou para o braço roxo por causa das balas.
A mesma pergunta.
Não doeu?
Não, ela dizia. Não doeu, nem dói. E ia embora.
E se repetia. Sempre. A mesma pergunta.
Nossa, não ta doendo?
Mas não estava. No doía, só isso. Sem dor. Sem nada.
Até que chegou em casa. A mãe foi correndo até ela, com os olhos marejados. Mas a menina sorria um sorriso cansado. Cansado, mas feliz. A mãe a abraçou com força, mas logo soltou, com medo de machucá-la ainda mais. Mas não doía, nunca havia doído. Eram só manchas! Manchas da vida, manchas da história. Manchas muito menores que muitas outras.
Eram manchas necessárias para se ter uma consciência tranquila no meio do que estava acontecendo. Manchas a tempos esperadas. Sim, eram manchas de um momento feliz, não de dor. Não, os roxos não doíam, só lembravam o porque da luta.
Não, não doía, Nunca havia doído. E então, ela sentou no sofá. Cansada. Exausta. Feliz.
E então, o pai chegou. O pai que tinha falado para ela ficar em casa e não se meter nessas coisas. O pai que reclamou de ficar horas no trânsito por causa dos "baderneiros". O pai.
E ele parou na frente dela. Olhou as manchas. Todas. Com um sarcasmo no fundo dos olhos.
E com um sorriso malicioso perguntou. A pergunta. A mesma pergunta.
Dói, não dói?
E ela olhou para ele, que tinha passado o dia no clube. E ela viu a televisão atrás dele, que passava cometários do último jogo da Copa. E ela viu o jornal em cima da mesa, que falava de vândalos que botavam fogo no meio das manifestações. E ela viu o celular, onde as amigas falavam da festa do fim de semana. E ela viu a mãe, fazendo a conta dos impostos. E ela viu a notícia do aumento do salário dos políticos. E ela viu os números enormes dos gastos para a Copa. E ela viu um povo que deveria pagar vinte centavos a mais para andar de ônibus. E ela viu. E ela enxergou.
Ele perguntou.
Dói, não dói?
E ela respondeu.

Dói. Isso dói.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Sobre exílios.



Minha terra tem palmeiras. Onde canta o sabiá.

Não permita Deus que eu morra, sem que eu volte para lá.

domingo, 17 de março de 2013

Desabafo.


É que de vez em quando, precisamos falar. Só isso. Mas não dá.
Porque tem coisa que não se fala, não se diz.
Mas precisamos falar. Precisamos demais. Porque não cabe mais na gente.
Mas se não cabe na gente... em quem vai caber? Então... por que é tão preciso falar?

E tudo fala para gente! Qualquer som, ruído... diz exatamente aquilo que se quer falar. É como se gritassem e ninguém mais ouvisse.
E então... queremos que escutem! Porque não cabe mais na gente, é preciso que entendam. Não, não é preciso que entendam. A verdade é que só é preciso que se escute. Mas como? Se nem conseguimos falar?

O ponto que mais dói é quando pensamos no "e se conseguíssemos falar?". Dói muito. Porque talvez não mudasse nada. E então?
Pelo menos o fato de não conseguir falar traz esperança, esperança de paz. Porque o que precisamos falar está no fundo. Fundo demais.

Porque no fim, não queremos falar nada para ninguém, só para nos mesmos.
Porque talvez a gente só queira entender o que está no fundo.
Só que dói. Dói demais.
Porque queremos falar e mal sabemos o que.