domingo, 5 de outubro de 2014

Seu cheiro.



O seu cheiro ficou em mim.
E eu o sinto o tempo todo, em cada momento que se passa.
E olha que o seu cheiro nem é daqueles bons, que marcam. Definitivamente não é. Ele é meio estranho e no começo achei que não gostava muito dele.
Mas agora ele se impregnou em mim, no meu corpo e alma e eu não consigo mais me desprender dele.
O seu cheiro ficou em mim de uma forma estranha, não foi intenso ou inesperado. Foi ficando... ficando... até que ficou.
Não posso dizer que gosto muito dele, que não consigo mais viver sem e tudo mais.
Só sei que ele está aqui, comigo. E está me fazendo bem.
O seu cheiro ficou em mim como nenhum outro. Porque ficou com o tempo. Porque foi virando, sem querer, parte do meu dia a dia, parte de mim.
O seu cheiro ficou em mim... e quer saber? Pode deixar ele comigo. Eu vou cuidar bem dele.

E você... cuida bem de mim também!

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Sentido.


A ausência de sentido não se dá por carência de bons fins. Muito pelo o contrário. Fins ruins podem ser decepcionantes, mas o desenrolar de fatos é que embasam bons julgamentos.
Afinal, para que julgar um ser humano por sua morte se existe uma vida inteira por trás dela?
Talvez a falta de sentido não esteja sobre objetivos vazios, mas por suas buscas mal vividas. Situações mal aproveitadas. Foi-se o tempo de Maquiavel, hoje os meios são tudo, hoje o meio é que faz o fim.
Então, dane-se que estejamos lutando com moinhos de vento, desde que sejam boas lutas! O valor de uma boa história, com toda sua filosofia, diálogos e personagens superam qualquer que seja o motivo para aquilo ser escrito. Viver de fato não precisa ser em prol de uma vida ou motivos grandiosos, não precisamos de prols, precisamos viver.
Passou-se o tempo em que o conhecimento era fundamental para uma boa compreensão da realidade. Vivemos agora num maravilhoso mundo de sentidos e acontecimentos. Acabou a idealização de passos pré determinados e agora a paixão está em dançar como os ventos, uma dança que não serve para ser apreciada, mas para se dançar junto.
Então vamos dançar!
Pensemos na queda, não no chão. Pensemos nas danças, não nos aplausos. Pensemos em viver, não no sentido disso.
Porque, talvez, em passos irregulares encontremos a vida. Talvez, nessas ondas insanas da realidade, nos sentiremos plenos. E na plenitude da alma, na plenitude do ato de viver, haverá sentido!
Afinal, para se ter sentido, precisou-se sentir.

domingo, 20 de julho de 2014

Causos [2]


Ela estava na página 25. O livro era sobre um tema interessantíssimo, mas um um pouco difícil de ler. A primeira linha falava sobre início do raciocínio do criador da teoria. Ela tinha dormido tarde na noite anterior, tinha ficado trabalhando num projeto novo, gostava do método que estava usando, é uma nova forma que acabara de chegar no mercado. Ela tinha tomado dois cafés, o segundo estava melhor do que o primeiro, talvez tivesse sido porque não tinha tanto açúcar. Droga. Ela tinha chegado na página 26, mas não lembrava nada da 25.

Os dois se enrolavam na coberta em completa harmonia. Nada mais estava em volta, nada mais ali existia. A respiração de ambos agiam como uma só, o mesmo ritmo que ninguém e nada podia parar. E naquele momento se amavam. Se amavam como nunca. Como nunca alguém amou, como nunca haviam se amado, pelo menos naquele momento era assim. Se amavam num ritmo constante, enquanto se enrolavam na coberta em completa harmonia.

Ele já havia se acostumado com aquela dor, a dor que ficava do lado esquerdo e não a deixava esquecer. Ele havia chegado num ponto em que aquela dor é que o movia, aquela dor que o fazia lembrar que estava vivo. Só que chegou uma hora que a dor foi tamanha que o lado esquerdo não aguentou e virou cinzas. Sim, cinzas. Aí a dor passou. E ele entendeu. Entendeu que a dor era de algo que estava no coração e como o coração tinha virado cinzas, não existia mais lugar para ela.

O sol morno esquentava sua pele coberta pela blusa de frio e trazia um calor agradável ao seu corpo. Não ventava, não tinha ninguém na rua, estava tudo em silêncio, como se o mundo ainda não estivesse acordado.
Ela agora passava por uma praça, as cores nunca estiveram tão evidentes: o azul do céu, o verde das árvores... Ela estava tão feliz! Feliz ao ponto de não conseguir segurar as lágrimas. Pela primeira vez em muito tempo não sentia dor na alma; pela primeira vez em muito tempo, ela conseguia aproveitar as pequenas belezas da vida.
E ela chorava, chorava numa felicidade que nada no mundo poderia abalar.

p.s. o terceiro causo virou um conto,  leia aqui!

domingo, 20 de abril de 2014

Oração.


Peço para que minha vida siga os ventos; que ela me leve aos mais altos picos e aos mais profundos vales, que seja intensa e inesquecível, sempre me levando aos mais diferentes lugares das mais diferentes formas.
Peço para que todo o amor do mundo entre em sintonia com o meu e que eu não sinta anseio em espalhá-lo pelos caminhos que passo, nem que hesite em agarrar todo aquele que me for oferecido.
Imploro para as desilusões não corromperem a minha alma; que minha essência seja mais forte que todo e qualquer mal que me fizeram e que eu possa sempre fazer bem ao próximo, independente do que façam a mim.
Peço para que passe toda essa angústia que sinto, que seja só uma fase ruim de um tempo ruim; para que todo esse mal me ensine e lembre-me do que passei. Mas que passe, que acabe e que tudo fique bem de novo.
Peço para que essa minha angústia da rotina e essa vontade de ir embora não acabe nunca! Mas que eu consiga ficar em paz, que eu consiga ser feliz ao ficar também.
Peço para que meus caminhos sejam repletos de retidão e de verdade e que, assim, sempre nos encontremos de novo.
Peço que a mais pura energia percorra meu corpo e alma e que possa sempre sentir a presença desse ser superior.
Peço  forças para continuar lutando pelo o que acredito e pelo o que quero ser; que nem toda a tristeza do mundo seja empecilho para tirar meu foco e me fazer desviar dos meus objetivos.
Peço que meus princípios e virtudes sempre me guiem, independente do caminho que esteja percorrendo; que eu nunca os deixe e eu nunca esqueça que são meus maiores pertences.
Mas mais do que tudo, eu agradeço. Agradeço pela oportunidade de viver e de poder querer viver. Agradeço pelo mundo que me cerca, que me permite o conhecer. Agradeço por sempre poder recomeçar, por sempre poder dar um passo diferente.
E, por fim, desejo que essa oração vire a mais pura energia e seja espalhada por todo esse universo maravilhoso. Desejo que todos os seus elementos consigam senti-la para que eu possa senti-los também, sentir suas orações, seus pedidos mais íntimos.
E, assim, que consigamos ser um só. Um só universo, uma só essência. Com paz, amor e gratidão.
Porque sendo parte dele, ele será parte de nós também.
Porque conspirando a favor dele, ele conspirará a nosso favor.
E que fazendo dele um lugar feliz, ele nos faça feliz também.
Que assim seja.

sábado, 12 de abril de 2014

Tempos ruins.


Eu só queria que passasse logo, sabe? Que de repente tudo ficasse bom de novo.
Tá difícil assim. Tá difícil acordar todos os dias dizendo que "este vai ser melhor" e não ser. Tá difícil! Tá difícil manter a esperança. Eu só queria que passasse logo, sabe? Que de repente tudo ficasse bom de novo.
Dói muito, muito mesmo. Me consome, o tempo todo, o tempo todo. Uma dor funda demais e eu não consigo fazer ela passar. Eu não sei como me curar dela, eu nem sei o que ela é direito. Eu só queria que passasse logo, sabe? Que de repente tudo ficasse bom de novo.
Eu tenho saudades de ser feliz. Tenho saudades de querer experimentar coisas novas. Tenho saudades de me jogar em tudo. Saudades de confiar em mim mesma. Saudades de ser forte, de parecer forte e de saber que era forte. Eu tenho saudades demais! Nossa, como eu tenho saudades! Eu só queria que passasse logo, sabe? Que de repente tudo ficasse bom de novo.
Tem alguma coisa errada! Alguma coisa muito errada! Eu não quero mais, não quero! Eu quero que passe, que vá embora! Que não volte nunca mais! Assim tá ficando difícil, assim ta doendo demais! Eu só queria que passasse logo, sabe? Que de repente tudo ficasse bom de novo.
Mas não passa.
Não passa.
Eu cansei.
Cansei demais.
Eu to exausta.
Exausta.

Eu só queria que passasse logo, sabe? Que de repente tudo ficasse bom de novo.

sábado, 8 de março de 2014

Sobre choros.

Eu choro.
Mas choro pela tristeza que não tive, pela pessoa que não fui.
Eu choro por não ter amado quem queria ter amado, choro por não ter sido a amada que ele amou.
Choro pelas pessoas que não conheci, pelos amigos que não tive, pelos diálogos que não existiram.
Eu choro por não ser o que eu queria ser.
Choro por no fim do dia não sentir o que queria ter sentido.
Eu choro por tudo aquilo que não foi meu, por tudo o que não perdi.
Choro por toda essa solidão e pela ausência dela também.
Choro por ainda querer ser alguém, sem nunca ter sido nada.
Choro por ainda pensar numa vida, sendo que nada vivi.
Choro pela ausência de tristezas, pela ausência de motivos para chorar.
Choro porque não existe problema.
Choro por recomeçar sem ter terminado, muito menos começado.

Mas hoje o céu decidiu chorar comigo.
Hoje não choro sozinha, hoje choro com as lágrimas das nuvens.
Hoje choro com um mundo do qual eu não sou digna, não por não o ter vivido, mas por acreditar que não o vivi.
Hoje o céu chora comigo, porque eu o decepcionei.
Mas eu não quero chorar pela decepção do mundo.

Choro por eu ter sido eu.
Choro por tudo o que consegui.
Choro pelas coisas que eu quero.
Choro pelas pessoas que conheço.
Choro pelo o pouco que eu tive.
Choro pelo o que vivi.
Choro por mim.
Choro pelo mundo.
Choro pelo céu, que hoje decidiu chorar comigo.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Consolo.


São cinco oitavas, sem mais. Sempre foi o suficiente, talvez até mais que o suficiente.
Aquela numa oitava acima era difícil, era para momentos em que não se queria pensar, em momentos que só se queria pensar em outra coisa.
Já as primeiras, eram diferentes, eram como uma abraço ou como um "vai ficar tudo bem". Era para quando se precisava de colo.
Mas tinham aquelas rápidas e agitadas, um tanto complicadas também! Ah, essas eram para quando algo não cabia na gente! Nossa, parecia que estávamos gritando aos céus tudo aquilo que queríamos dizer.
E tinham aquelas pesadas, uma oitava abaixo. Doía, cada nota. Mas era porque elas entendiam, elas compreendiam e, assim, nos faziam compreender também! Eram aquelas com quem a gente é sincero, sabe? Aquelas que a gente procura quando entende a situação e está disposto a enfrentar, por mais difícil que seja.
E há outras! E muitas! Aquelas que aprendemos a tanto tempo, que fazem parte de nós! Essas são como diálogos internos, nem percebemos que estão ali; têm aquelas que por um motivo bobo te faz sorrir, só porque você gosta do som! Essas são ótimas, porque (mesmo sabendo de cor) você pega a partitura e lê nota por nota e até repete algumas partes, mesmo sem ter errado, porque é bom! Só por isso!
E elas sempre estão ali! Todas as  oitavas, todas as partituras! As mais usadas, as menos usadas... sempre ali! Todas juntas, em sois e mis, sustenidos e bemóis, claves de sol e claves de fá, numa mistura louca e insana. Sempre ali, sempre lá. Esperando. Esperando qualquer coisa para poderem consolar.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Causos.


Um dia ele acordou e tinha alguma coisa diferente. Pela primeira vez, ele não sentiu aquele peso absurdo nos ombros. E ficou feliz, achando que o mundo havia mudado, sendo que, na verdade, quem havia mudado era ele.

Guarda-chuvas coloridos corriam, era cedo e as gotas caiam incessantes do céu. Eu entrei no ônibus meio seca, meio molhada. E ele estava lá. Aquele rapaz, encolhido num dos bancos. Estava lá com olhares hostis, fixados em todos que entravam, como um predador cuidando das suas crias. Olhava como se fosse a última coisa que fossemos ver. O frio na espinha me persegue até hoje. Nunca, nunca mesmo, vou esquecer daqueles olhos.

Ela tinha quatro opções aquela noite. QUATRO. E ela não escolheu nenhuma delas. Porque a opção que ela queria não estava ali. Por isso, decidiu ficar em casa. Como era uma menina boba!

Eu era criança quando vi aquela escada. As pessoas subiam e desciam, subiam e desciam. Eu não entendia. Não entendia porque as pessoas desciam depois de subir. Não entendia porque não podiam ficar lá em cima. Na verdade, talvez até hoje não entendo.

Sempre no mesmo horário ela corria. Eu a via passar do banco que estava sentada com aquela expressão de angústia. Dia após dia ela passava por lá. Correndo. Como se fosse a última coisa que fosse fazer, como se sua vida dependesse disso. Ela sempre estava lá. Correndo. Com aquela expressão de angústia.