domingo, 20 de julho de 2014

Causos [2]


Ela estava na página 25. O livro era sobre um tema interessantíssimo, mas um um pouco difícil de ler. A primeira linha falava sobre início do raciocínio do criador da teoria. Ela tinha dormido tarde na noite anterior, tinha ficado trabalhando num projeto novo, gostava do método que estava usando, é uma nova forma que acabara de chegar no mercado. Ela tinha tomado dois cafés, o segundo estava melhor do que o primeiro, talvez tivesse sido porque não tinha tanto açúcar. Droga. Ela tinha chegado na página 26, mas não lembrava nada da 25.

Os dois se enrolavam na coberta em completa harmonia. Nada mais estava em volta, nada mais ali existia. A respiração de ambos agiam como uma só, o mesmo ritmo que ninguém e nada podia parar. E naquele momento se amavam. Se amavam como nunca. Como nunca alguém amou, como nunca haviam se amado, pelo menos naquele momento era assim. Se amavam num ritmo constante, enquanto se enrolavam na coberta em completa harmonia.

Ele já havia se acostumado com aquela dor, a dor que ficava do lado esquerdo e não a deixava esquecer. Ele havia chegado num ponto em que aquela dor é que o movia, aquela dor que o fazia lembrar que estava vivo. Só que chegou uma hora que a dor foi tamanha que o lado esquerdo não aguentou e virou cinzas. Sim, cinzas. Aí a dor passou. E ele entendeu. Entendeu que a dor era de algo que estava no coração e como o coração tinha virado cinzas, não existia mais lugar para ela.

O sol morno esquentava sua pele coberta pela blusa de frio e trazia um calor agradável ao seu corpo. Não ventava, não tinha ninguém na rua, estava tudo em silêncio, como se o mundo ainda não estivesse acordado.
Ela agora passava por uma praça, as cores nunca estiveram tão evidentes: o azul do céu, o verde das árvores... Ela estava tão feliz! Feliz ao ponto de não conseguir segurar as lágrimas. Pela primeira vez em muito tempo não sentia dor na alma; pela primeira vez em muito tempo, ela conseguia aproveitar as pequenas belezas da vida.
E ela chorava, chorava numa felicidade que nada no mundo poderia abalar.

p.s. o terceiro causo virou um conto,  leia aqui!